Quando demitiu Bruno Lage e anunciou Lucio Flavio, a diretoria do Botafogo atendeu a uma demanda de jogadores e torcida: de que era preciso interromper um trabalho que se distanciou do de Luís Castro e resgatar o que vinha dando certo. O plano parecia simples: era só voltar a jogar como no primeiro turno do Brasileiro para retomar o caminho do título. Dentro desta lógica, o escolhido não poderia ser mais apropriado. O auxiliar acompanhou de perto como o hoje técnico do Al-Nassr atuara e saberia replicar. Só que não deu certo, e o alvinegro corre risco de perder a liderança a qualquer momento. Mas por quê?
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O Botafogo ignorou que cada trabalho é diferente. Por mais que possa ter aprendido na convivência com Castro, Lucio Flavio tem sua própria metodologia. Assim como Bruno Lage, Cláudio Caçapa e qualquer outro profissional.
—O Lucio Flavio não é o Luís Castro. Mais que isso: não tem o estafe do Castro. A gente valoriza muito o treinador, mas esquece que a comissão tem muito valor também — opina Renato Rodrigues, comentarista dos canais ESPN, que ainda acrescenta:
— O futebol é um organismo vivo. Você pode manter a estrutura de um time, mas vai perder jogador por suspensão ou por lesão, vai ter atletas que vão começar a treinar melhor que outros e isso te obriga a mexer na equipe, as partidas e os adversários começam a te pedir estratégias diferentes…
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O Botafogo apostou no que se costuma chamar de memória tática. Quando um trabalho atinge determinada duração, é normal que os atletas assimilem as movimentações e conceitos treinados e saibam repeti-los mesmo após a saída da comissão. Como pôde ser visto nos três jogos sob comando de Caçapa. Mas, na medida em que são expostos a novos conceitos e metodologia, é comum também que essa lembrança se perca.
— Vou usar uma metáfora. Você bebe um copo de suco de laranja. Não lava e põe suco de uva. Bebe e, também sem lavar, o enche novamente com suco de laranja. Ele não vai ter o mesmo sabor que da primeira vez — exemplifica Rodrigues.
De certa forma, Lucio Flavio tem se esforçado para resgatar esta “essência” do Botafogo do começo do Brasileiro. Levando em conta que já dirigiu a equipe em seis partidas, foram 66 vagas de titulares. Destas, 60 foram dadas a atletas do time base de Castro nas rodadas iniciais — e sempre na posição em que jogaram com o português. As seis diferentes foram por suspensão. Nunca por opção.
—Não é só uma questão de querer que o time jogue igual, que “não invente”. As ideias se tornam palpáveis com metodologia de treino, com dia a dia. Se o Júnior Santos executa uma movimentação é porque ele a treinou na segunda, na terça, na quarta… Não sei se o Lucio Flavio domina aquela filosofia que era tão bem implementada pelo Castro — diz Rodrigo Coutinho, comentarista dos canais Sportv, destacando a importância do processo nos trabalhos feitos no futebol:
— Cada profissional tem suas convicções dentro do que acredita como melhor futebol. Aí ele faz a avaliação de acordo com o elenco que tem. Foi nítido que existia uma diferença entre o que o Castro pensava inicialmente para o Botafogo com a maioria dos jogadores que dispunha. E ele foi adequando ao longo do tempo.
O futebol brasileiro é rico em exemplos de processos ignorados e de avaliações equivocadas. Em 2020, o Flamengo caiu no mesmo erro ao apostar que Domènec Torrent replicaria o futebol de Jorge Jesus.
De certa forma, Dorival Júnior sofreu o mesmo no rubro-negro no ano passado. Seu trabalho foi erroneamente classificado de “feijão com arroz” por torcedores e comentaristas, que desconsideraram as ideias aplicadas.
— (Diziam que) Comigo era o melhor elenco, era só fazer o simples. Falavam feijão com arroz. As pessoas não têm ideia do que é. É você chegar antes das 7h, exigir que o trabalho da comissão seja extensivo e vá até o final do dia, que você cobre três maneiras de atacar o adversário e três de se defender. Isso demanda muito estudo — defendeu o hoje técnico do São Paulo após vencer a Copa do Brasil contra o mesmo Flamengo.
Botafogo de Bruno Lage: veja os jogos que pesaram para a demissão do técnico
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O jogo da 22ª rodada do Brasileirão, contra o Flamengo, marca a primeira da série de derrotas do Botafogo de Bruno Lage — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo
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A segunda derrota do Botafogo de Bruno Lage foi contra o Atlético-MG, na 23ª rodada do Brasileirão — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG
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Pela Copa Sul-Americana, Botafogo empatou com Defensa y Justicia no jogo de ida, no Engenhão — Foto: Vitor Silva/Botafogo
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Depois de empatar o jogo de ida pela Copa Sul-Americana, o Botafogo perdeu de 2×1 para o Defensa y Justicia — Foto: Ruan Mabromata/AFP
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Bruno Lages durante o jogo eliminatório do Botafogo contra o Defensa y Justicia, na Copa Sul-Americana — Foto: Juan Mabromata/AFP
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Na 24ª rodada, o Botafogo perdeu para o Corinthians em São Paulo. Na foto: Marçal e Pedro em Botafogo e Corinthians; capitão do alvinegro deu entrada desnecessária em jovem do time paulista e foi expulso aos 20 minutos de jogo — Foto: Vítor Silva / Botafogo
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O empate com o Goiás, pela 25ª rodada do Brasileirão, foi o jogo que culminou na demissão do português Bruno Lage — Foto: Vitor Silva/Botafogo
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Ex-técnico do Botafogo, Bruno Lage ficou sozinho no campo após empate contra o Goiás — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo
Português Bruno Lage coleciona derrotas no Brasileirão e uma eliminação na Copa Sul-Americana pelo Botafogo